Objetivos e intenções do Onda Negra.

O Onda Negra surge como um desejo de exteriorização de algumas reflexões que estão diretamente ligadas à questão racial. Almejamos com este espaço a problematização e discussão sobre temas como o racismo, o preconceito racial e a discriminação. Possivelmente, veremos também discussões sobre processos que apontam para uma predominância da desigualdade social e racial no nosso país.

Em alguns momentos, apresentaremos sugestões, análises e reflexões de filmes que abordam diretamente ou indiretamente a temática racial, ou, que dialoguem com a mesma. Salientamos que dentro desta proposta não deixaremos de abordar, por exemplo: a questão de gênero, os processos do mundo do trabalho e a questão racial, a questão da violência racial e, principalmente, alguns processos que envolvam reparação e ganhos para a população negra, como no caso das políticas de Ações Afirmativas.

Por último, explicamos que a origem do nome Onda Negra foi pensado a partir do livro da Celia de Azevedo, "Onda negra, medo branco". Nesse livro, a autora estabelece um intenso debate em torno das "questões senhoriais travadas por abolicionistas e imigrantistas ao longo do século dezenove. Decerto esse debate ainda se arrastaria pelo tempo não fosse a intervenção dos próprios escravos com suas ações autônomas e violentas, aguçando os medos da 'onda negra', imagem vívida forjada no calor da luta por elites racistas."

Sendo assim, julguei pertinente fazer uma alusão a esta "onda negra" que se tratava do medo das elites com os retrospectos das lutas anti-escravistas (ou por libertação dos negros escravizados) como por exemplo, a Revolução Haitiana; para tratar dos problemas contemporâneos que envolvem a condição do negro em nossa sociedade. Enquanto as lutas ganham força por ganhos de direitos, por igualdade de condições no mercado de trabalho em relação aos brancos, por políticas de reparação e de inclusão com as Ações Afirmativas, percebe-se que todo esse movimento ainda desperta em alguns grupos da nossa sociedade um incômodo, uma desconfiança e a meu ver um medo.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O racismo científico à brasileira mostra a sua cara



Para além das suas declarações racistas e da equivocada noção da realidade, o que me impressiona e quero chamar a atenção aqui é para a construção discursiva ainda pautada num mix de teorias difundidas no século XIX, que foram encampadas por um grupo de cientistas e pesquisadores que desenvolveram postulados preconceituosos e eurocêntricos em que justificavam “cientificamente” as motivações para nos fazer acreditar numa “inferiorização” e “desumanização” do negro a partir das características genéticas, raciológicas e psicológicas.

Não me surpreende esta atitude racista e preconceituosa, pois sei que ela existe e é muito presente no cotidiano de muitos alunos negros, indígenas e outros grupos de alunos e alunas que fazem parte de outras “minorias” dentro da universidade. O que realmente me surpreende é a forma como ele se coloca, com a ilusão de está relatando algo que é real, que faz parte da nossa sociedade e a constitui, sem achar que está sendo racista com suas declarações. Este professor Manoel, nos demonstra a mais vívida naturalização da desigualdade racial, do preconceito e discriminação, da naturalização da pobreza em contraposição aos privilégios que a sua branquitude lhe ofereceu.


A partir deste acontecimento, torna-se extremamente necessário debatermos de forma mais profícua as relações raciais dentro das universidades e as formas de discriminação que vem acontecendo nas relações entre professores e alunos. A atitude deste professor é o reflexo de algo muito maior que está alicerçada nos discursos da meritocracia e circunscrita no que se convencionou chamar de racismo à brasileira. Portanto, quando este racismo à brasileira mostra a sua cara de maneira tão latente, o combate se torna imperativo.

Assistam a fala do professor clicando no link abaixo: 


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O nosso desejo é que o seu desejo não nos defina. A nossa história é outra!


Como se não bastasse as situações e manifestações de racismo que se evidenciaram nas últimas semanas, seja nos campos de futebol (no caso do goleiro Aranha), em shoppings (o homem negro que tirou a roupa para provar que não tinha roubado nada) e em lojas de centro (pai que parte em defesa dos filhos contra o racismo institucional de policiais), a Globo vem com mais um seriado chamado “Sexo e as Negas”. Só pode ser brincadeira...! Infelizmente não é.

Não vou entrar nas questões da pertinência ou não pertinência da série, mas pretendo discorrer sobre suas aparentes intenções e possíveis perigos. Antes, destaco o meu entendimento sobre algumas expressões que sempre me incomodaram (histórica e sonoramente). Um pouco antes do anúncio da série pude discutir (informalmente) e fazer referência a tais expressões e o peso que elas detêm ainda hoje. Estou falando dos termos: “nega”, “nego” e “neguinho”.

Dito isso, explico que não estou pensando nas dimensões de carinho, nas expressões de amor e afeto que muitos usam para se referirem aos seus parceiros e parceiras, às amigas e aos amigos, mas reflito sobre o uso de tais termos e na dimensão da inferiorização, da violência racial e dos efeitos perversos da desigualdade e discriminação raciais (mesmo sem terem a noção de tais práticas). Pois bem, quando nos deparamos com expressões do tipo: “Você está pensando que eu sou o quê? Eu não sou ‘tuas Negas’!”, “Você viu que folgado? ‘Neguinho’ vem aqui e acha que pode fazer o que quer”, “Nego acha que pode ir chegando assim e pronto”. Pensem em como estas expressões fazem parte do nosso cotidiano e são pronunciadas sem ao menos refletirmos cuidadosamente (salvo as raras exceções) nas suas origens e na amplitude dos seus significados.



Esse “nego”, essa “nega” e esse “neguinho” são frutos de um período escravista, expressões acalentadas e nutridas nos fluxos e refluxos de uma sociedade branca, elitista, machista e racista.  O “eu não sou tuas negas” advém de um passado em que as mulheres negras eram propriedades dos senhores de escravos e sofriam todos os tipos de barbaridades (o estupro era um deles); o fato de que se podia fazer qualquer coisa com uma negra (nos referindo às dimensões dos desejos sexuais), visto que a mesma era uma propriedade, logo, destituída de humanidade, se tornou um fenômeno comum e de difícil extinção nos processos constitutivos das relações sociais do nosso país. Em outras palavras, o que não se fazia abertamente e livremente com a mulher branca (sem o peso moral e cerceador da “sociedade tradicional da época”), desembocava em noites de violência e estupros nas senzalas ou nos recônditos da casa grande.

Já os outros dois exemplos têm haver com o uso direto e imediato da liberdade adquirida, com o ganho de direitos e o não reconhecimento por parte da elite brasileira no que diz respeito à “igual dignidade” dos negros e das negras.

O perigo é que essas expressões têm poder. O discurso por mais “inocente” que possa parecer, por mais que assuma formas de “simples” expressões do nosso cotidiano, causa danos e retroalimenta fatores que são condicionantes do racismo que se evidencia no Brasil. A partir de tais fatores colocados, qual seria o lugar do homem negro e da mulher negra em nossa sociedade? Pensemos nos seriados produzidos pela empresa Rede Globo (salvo a exceção da novela Lado a Lado) e nos perguntemos: que tipo de lugar ela (a empresa) nos impõem “sutilmente”, ou, ao menos, quer que aceitemos passivamente para nos levar a crer que está nos dando a oportunidade que há tempos nos foi negada.

Por que o uso do termo “as Nega”, ao invés de as “Negras”? Por que Victoria Santa Cruz, artista e ativista afroperuana, ao compor o poema “Me Gritaram Negra!” não usou o “Nega”? Por que “Blogueiras Negras”? Acho que consigo responder: pelo fato de enxergarem uma força política, transformadora e aglutinadora que seja capaz de potencializar a ação de combate, resistência e valorização da etnia de um povo, fundamentalmente, das mulheres negras.

Com isso, pergunto: o que este seriado vai trazer de importante para a valorização da mulher negra enquanto sujeito político e independente nas suas mais diversas interações sociais na atualidade?

Quando veremos as crianças negras, principalmente, as meninas, se identificando com personagens negras que sejam médicas, filósofas, advogadas, universitárias, executivas “bem sucedidas” sendo as protagonistas das suas histórias? Exemplos como esses, já possibilitaria uma percepção de que existem muito mais questões e objetivos a serem alcançados que não se resumem ao “sexo das negas”. Entretanto, entendo que este não é o foco e nem a proposta da empresa Rede Globo, o que lhe interessa é continuar reproduzindo a imagem da mulher negra no âmbito do sexo (como “objeto” puro e simplesmente para o prazer), do carnaval e do samba, como empregadas domésticas das famílias brancas e ricas que estão todos os dias nas novelas brasileiras.

Não podemos cair na “ilusão discursiva” (que corrobora e age em prol da manutenção do status quo), que vê como válida a realização do seriado, pois a representação da vida da mulher negra, mesmo sendo na periferia, seria uma expressão da realidade que muitas vivem em nosso país. Consigo entender esse argumento, mas não concordo que este seja o único caminho a ser utilizado pela emissora em questão. Será que dentro do enredo da série, alguma personagem enfrentará discriminação por ser uma estudante universitária que através da política de ação afirmativa se tornou uma representante combativa de um pequeno grupo de alunas negras no curso de medicina da universidade X? Ou teremos alguma personagem enfrentando problemas como machismo ou racismo praticado na empresa em que ela está pleiteando o cargo de “Diretora Executiva”?

O idealizador desta série não está preocupado com essas questões, o lugar social dele até permitiria que enxergasse, caso estivesse aberto a ver e a problematizar esses fatores, mas o que ele faz, achando que está “ajudando” os colegas e as colegas negras, é reproduzir estereótipos ancorados historicamente na representação social da mulher negra já que não apresenta nada novo, que irrompa os construtos impositivos de um padrão discriminatório do “lugar” do negro ou da mulher negra na sociedade brasileira, questionando, cutucando, fazendo refletir ou aprofundar um debate qualificado sobre essa temática tão cara à noção dos lugares sociais, carreiras, representações possíveis de serem assumidas por negros e negras neste país.

Nas palavras dele em uma nota explicativa sobre a polêmica do programa: “dói ver a luta dos colegas negros na profissão. As oportunidades são reduzidas, não trabalham sempre e, sem exercício, não há aprendizado, como sabemos. Pensei que aquela ideia, surgida numa feijoada, na Cidade Alta de Cordovil, pudesse ser um programa que refletisse um pouco a dura vida daquelas pessoas, além de empregar e trazer para o protagonismo mais atores negros. Basicamente, foi essa a ideia e nem achei que iriam aceitar o programa. Qual é o problema, afinal? É o sexo? São as negas?” (Ele ainda fala um pouco mais sobre a serie).


O problema é que não vemos uma produção que rompa com a perspectiva estereotipada que sempre enquadra os negros e as negras nas representações da “nega para o sexo”, “do nego bom de cama e pegador” e “das mulheres humildes e pobres” que estão em trabalhos subalternos e de ínfimo reconhecimento social, sonhando com um amor verdadeiro. Precisamos de mais posturas engajadas, visões críticas, diretores de coragem para romper com estes padrões que insistem em ser colocados para nós negros e negras. 

Para embalar as reflexões:


sábado, 23 de agosto de 2014

A importância e atualidade do curta “Vista a minha Pele” - Algumas reflexões


Por Soraia Cavalcante

No curta metragem “Vista Minha Pele” é destacado de forma inteligente a ausência do negro na televisão, no cinema, nas revistas, enfim, na mídia, fazendo-nos refletir sobre a presença do preconceito e da discriminação racial presente em nossa sociedade.

Outro aspecto destacado foi à tentativa do negro, em modificar o seu cabelo, sua fisionomia, para se tornar um pouco mais aceito e menos discriminado pela sociedade.

O curta teve como foco principal a escola, já que é um local privilegiado para se combater ou perpetuar o racismo. Nesse ambiente, foi destacada a discriminação racial pelos colegas, o silenciamento em alguns momentos, da personagem principal vítima do preconceito e de um jovem que desiste de estudar, porque não aguenta a pressão e a rejeição por parte dos professores, o que é destacado no trabalho de Rosemberg, 2006, referente ao abandono de alunos negros da escola.

É apresentado um conflito entre aqueles que achavam que a jovem teria que aceitar a sua situação, deixando os sonhos de lado, e caminhando de acordo com aquilo que a sociedade esperava que ela pudesse alcançar, enquanto representante de uma “raça” inferior, mas de outro lado, havia pessoas que não aceitavam a injustiça social e acreditavam que somente a partir da luta, da resistência e do desafio, seria possível o caminho para a mudança.

Nesse momento, acho interessante destacar a pesquisa organizada por Silvério (2010), em que é destacada a importância de um trabalho de valorização das diferenças, já que tal postura política propicia uma ruptura ou abrandamento da homogeneização construída em nossa sociedade, sobre a existência de uma cultura universal.
Destaca ainda, que,

A expansão dos direitos, decorrente das transformações nas concepções de liberdade do século XXI, inseriu a questão da diferença enquanto enfrentamento da condição de subalternidade, ou seja, a diferença passou a ser politizada visando o reconhecimento social. (SILVÉRIO, Valter Roberto et all. 2010 p.126)

        
Aliás, é demonstrada a ausência da história do povo africano ou de sua resistência no país, e a ênfase na escravidão e submissão de um povo.

Em um determinado momento do curta “Vista a Minha Pele”, o professor olha para a personagem vítima do preconceito, com dó, pensa em sua alimentação, na falta de empenho por parte da família da adolescente, destacando uma das concepções utilizadas no Brasil, para justificar a desigualdade no desempenho escolar entre crianças brancas e negras.

De acordo com a pesquisa organizada por Silvério (2010), na década de 1970, as tentativas de análise e compreensão das causas do fracasso e evasão escolar se concentraram, no debate acadêmico, em torno das carências afetivas e alimentares.

Portanto, visando diminuir tais carências, introduziram-se políticas públicas compensatórias, como a merenda escolar, no intuito de diminuir a desnutrição e consequentemente a dificuldade de aprendizagem.

Mas esta foi apenas uma visão dentre várias outras presentes no Brasil, para justificar a desigualdade na aprendizagem escolar.

As teorias científicas do racismo, apresentadas em fins do século XIX, na Europa, tiveram repercussão no Brasil, partindo do pressuposto da inferioridade das culturas não brancas, daí a crença na inferioridade intelectual do negro.

Inicia-se uma política de branqueamento da população, em defesa da mestiçagem, da mistura entre negros, brancos e indígenas, procurando aumentar o “grau de inteligência” da população brasileira, que era em sua maioria negra. Há um incentivo para a entrada de europeus no país, bem como a proibição da migração de africanos.
Surge uma política em defesa da presença de uma democracia racial, representada pelo mestiço, defendida entre outros autores, por Gilberto Freyre.

Porém, de acordo com as pesquisas apresentadas pelo IBGE, em que foi destacado o baixo desempenho escolar dos alunos das classes populares, alguns pesquisadores, como o sociólogo Florestan Fernandes e Roger Bastide, em meados do século XX, colocam em xeque o mito da democracia racial, já que as pesquisas apontavam nitidamente desvantagens da população negra no comparativo à população branca.

Defende-se neste momento, que a questão racial estava subordinada à temática de classes sociais. Florestan acreditava que o racismo seria superado pelo avanço da modernização capitalista, com a ampliação do modelo urbano-industrial, ou seja, que o problema estava na desigualdade social e não racial.

Isto porque, como mostra a pesquisa realizada por Rosemberg (2006), a grande massa de pesquisas educacionais relacionados ao baixo desempenho das classes populares, era desagregada da relação cor/raça, bem como de gênero, dificultando uma visão real dos grupos em desvantagem, como mulheres e negros.

Tivemos o retorno da crença da democracia racial e, portanto, um abandono de políticas públicas voltadas ao combate da desigualdade, durante a ditadura militar no Brasil de 1964 a 1985.

Nesse momento, há uma defesa da ideia de uma síntese cultural única, no qual os elementos culturais brancos, indígenas e negros, compartilhariam de uma aprendizagem a partir de uma educação universal em que todos teriam as mesmas condições de reconhecimento, visão defendida pelos franceses.

Aliás, essa igualdade de condições foi um dos aspectos problematizados no curta “Vista a Minha Pele”.

Somente, a partir do final da década de 1970, com a atuação do Movimento social negro, que integrou ações como o combate e a denúncia das práticas discriminatórias e racistas com a apresentação de demandas nos campos da educação, saúde, segurança, habitação, mercado de trabalho, entre outros, a partir da alteração das políticas públicas, denominadas de políticas de promoção da igualdade racial e políticas de ação afirmativa, é que algumas mudanças começam a aparecer.

O mito da democracia racial é desconstruído, bem como as falsas teorias biológicas e culturais.

Ações como a campanha “Não deixe sua Cor passar em Branco”, para o Censo Demográfico de 1980, propõem mudanças a partir do processo de redemocratização da sociedade brasileira, juntamente com a Lei 10639, de 2003 e a recente aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, com o intuito de ampliar direitos à diversidade étnico-racial, expressa no respeito às diferenças, e na luta por seu correto reconhecimento.

No entanto, a pesquisa de Rosemberg (2006), chama a atenção para a fragilidade dos modelos teóricos que vêm embasando a interpretação de dados macro, a partir de pesquisadores menos experientes, desconsiderando os processos sociais que lhe dão significado.

Defende a formação de recursos humanos saídos da comunidade negra, para o tratamento e interpretação de dados macro, tanto relacionados aos estudos da educação como das relações sociais, que geralmente são feitos por pesquisadores brancos.

Para finalizar, gostaria de comentar o título do curta “Vista a minha Pele” e a proposta em que apresentaram a visão do racismo e da discriminação, colocando pessoas brancas numa situação de inferioridade e discriminação, convidando-nos realmente a refletir sobre todo um preconceito em função da pele, da construção do racismo em torno de um continente.

Ver o curta:




Sobre a autora:

Soraia Esteves Cavalcante trabalha há 21 anos na área da Educação. Leciona História na rede Estadual de Ensino para o Ensino Fundamental, e também trabalha com as crianças pequenas, da Educação Infantil, pela Prefeitura de Guarulhos.
Tem como foco e interesse, pesquisas relacionadas ao tema “diversidade étnico-racial”.  Além da graduação em História, possui especialização em Educação Infantil pela USP, e especialização em História, pela UNICAMP. Durante a especialização teve a oportunidade de pesquisar sobre o trabalho com a diversidade étnico-racial na Educação Infantil, bem como, procurou analisar uma obra literária, considerada o primeiro romance escrito no Brasil por uma mulher negra – Maria Firmina dos Reis, que publicou em 1859 a obra “Úrsula”.
Realizou cursos voltados para as seguintes temáticas: “Educação, Africanidades, Brasil", pela Universidade de Brasília; e, atualmente, “Gênero e Diversidade na Escola”, pela UFSCar.  Esse último, como a própria Soraia nos colocou – me ajudou a ampliar ainda mais os horizontes, com relação não apenas à diversidade étnico-racial, mas também quanto à questão do gênero e sexualidade.


Referências utilizadas:

ROSEMBERG, Fúlvia. Estatísticas Educacionais e Cor/Raça na Educação Infantil e no Ensino Fundamental: um balanço. Disponível em: http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1284/1284.pdf. Acesso em 21.jan.2014.


SILVÉRIO, Valter Roberto et all. “As relações étnico-raciais e a educação” in: Richard Miskolci (org). Marcas da Diferença no Ensino Escolar, São Paulo: EdUFSCar, 2010, pp. 120-144.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O que entendemos e podemos refletir sobre Branquitude?

Poderia nesta postagem discorrer sobre o que esta longa passagem, do livro, Psicologia Social do Racismo - Estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil, tem a nos dizer. Mas preferi transcrever o trecho visto a sua importância e potencialidades de reflexões que podem ser retiradas dele ou da discussão proposta pelas autoras.

O problema estrutural do racismo não é e nem pode ser somente uma culpa do negro ou somente um legado da escravidão. Existem outros fatores, imersos de complexidades, nas relações raciais brasileiras e um destes é a questão da Branquitude. O que se pode dizer sobre a percepção do branco e o seu papel como agente difusor de práticas e comportamentos racistas seja no passado seja na atualidade? O trecho a seguir foi transcrito das páginas 42-45 do livro acima.

[Uma psicóloga norte-americana, afirma que os brancos negam inicialmente qualquer preconceito pessoal, tendendo a posteriormente reconhecer o impacto do racismo sobre a vida dos negros, mas evitando reconhecer o impacto sobre as suas próprias vidas. Ela destaca o depoimento de uma das mulheres brancas que participava do curso sobre relações raciais na universidade:

– como uma pessoa branca, me dei conta de que pensava sobre racismo como alguma coisa que coloca outras pessoas em desvantagem, mas não tinha pensado no aspecto de seus resultados, o privilégio dos brancos, o que colocava vantagem... Eu via o racismo somente como atos individuais de agressão, não como um sistema invisível conferindo dominância para o meu grupo. –

Janet Helms, descreve a evolução de uma possível identidade racial branca não-racista que pode ser alcançada se a pessoa aceitar sua própria branquitude, e as implicações culturais, políticas, socioeconômicas de ser branca, definindo uma visão do eu como um ser racial.

Ela identifica seis estágios no seu modelo de desenvolvimento da identidade racial branca: contato, desintegração, reintegração, falsa independência, imersão/emersão e autonomia.

O estágio inicial, de contato, geralmente inclui uma curiosidade primitiva ou medo de pessoas negras, baseada em estereótipos aprendidos com amigos, na família ou na mídia, cujo objetivo, dentre outros, era restringir a própria consciência das questões raciais e a interação com as pessoas negras. Pessoas que estão nesse estágio, quando querem elogiar um negro, fazem comentários do tipo: “Você não age como uma pessoa negra”.

Algumas dessas pessoas podem permanecer neste estágio definitivamente, porém, certos tipos de experiência (interação crescente com pessoas negras e novas informações sobre racismo), às vezes, levam a uma nova compreensão da existência do racismo institucional e cultural, o que pode assinalar o início do estágio de desintegração.

Neste estágio aparece o desconforto da culpa, vergonha e, algumas vezes, raiva diante da identificação de suas próprias vantagens por serem brancos e o reconhecimento do papel dos indivíduos brancos na manutenção do sistema racista.

Para reduzir este desconforto, as pessoas podem convencer a si própria de que racismo realmente não existe ou, se existe, é culpa das vítimas.

Neste ponto, o desejo de ser aceito pelo seu próprio grupo racial, no qual a crença dissimulada ou explicita na superioridade branca está muito presente, pode levar a pessoa a readequar seu sistema de crenças para tornar-se mais coerente com a aceitação do racismo. (Podemos identificar este ponto como a falsa independência)

A culpa e a ansiedade associadas com a desintegração podem ser redirecionadas sob a forma de medo e raiva contra negros, que são agora acusados de ser fonte de mal-estar emocional.

Janet Helms sugere que é realmente fácil para os brancos ficarem paralisados no estágio da reintegração, particularmente se é possível evitar negros. Todavia, se há um catalisador para continuar a auto-reflexão, a pessoa questiona sua definição de ser branco e a justificação do racismo.

O indivíduo experimenta, então, um senso de alienação em relação aos outros brancos que não experimentaram o seu próprio racismo.

Desconfortável com sua própria branquitude, ainda incapaz de ser verdadeiramente qualquer coisa, o indivíduo pode buscar uma nova maneira, mais confortável, de ser branco. Esta busca é a característica do estágio de desenvolvimento imersão/emersão.
Estudar sobre brancos anti-racistas pode também oferecer aos negros a esperança de que é possível ter aliados brancos.

Para brancos, a internalização de uma nova percepção do que é ser branco é a tarefa básica do estágio de autonomia. Os sentimentos positivos associados a esta redefinição energizam os esforços pessoais para confrontar a opressão e o racismo na sua vida cotidiana. É um processo sempre em andamento, no qual a pessoa precisa estar continuamente aberta a novas informações e novas formas de pensar sobre variáveis culturais e raciais.

Os estudos de Edith Piza e Janet Helms são fundamentais porque nos auxiliam a focalizar o problema das relações raciais como um problema das relações entre negros e brancos e não como um problema do negro, como habitualmente se faz no Brasil; como se o branco não fosse elemento essencial desta análise, como se identidade racial não tivesse fortes matizes ideológicos, políticos, econômicos e simbólicos que explicam e, ao mesmo tempo, desnudam o silêncio e o medo.]



Livro: Psicologia Social do Racismo - Estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil – Iray Carone e Maria Aparecida Silva Bento.

Observação: o livro da Janet E. Helms é o Black and White racial identity: theory, research and practice. New York: Greenwood Press, 1990.

terça-feira, 24 de junho de 2014

RAÇA, CIÊNCIA E SOCIEDADE.

Compartilho neste espaço uma resenha do livro que é um clássico para quem se interessa pelos estudos das Relações Raciais no Brasil. Esta formidável resenha, com uma explanação lúcida e competente, foi realizada por Paulo César Alves, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA.

RAÇA, CIÊNCIA E SOCIEDADE

Um livro organizado pelos autores: Marcos Chor Maio & Ricardo Ventura Santos (organizadores). Rio de Janeiro: Editora Fiocruz/Centro Cultural Banco do Brasil, 1996. 252 pp. (brochura)

A coletânea de artigos organizada por Marcos Chor Maio (pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz) e Ricardo Ventura Santos (professor do Museu Nacional e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública) é resultado do seminário Raça, Ciência e Sociedade, realizado no Centro Cultural Banco do Brasil, em maio de 1995. Trata-se de uma feliz e preciosa combinação de textos que, mediante uma pluralidade de enfoques teórico-metodológicos, revelam na sua totalidade uma análise multidisciplinar da história, das ciências sociais e, em certa medida, da literatura para compreender o fenômeno complexo e polifacetado do cenário racial brasileiro. Pela abrangência e riqueza do tema tratado, a coletânea retoma com admirável originalidade um antigo debate sobre a cultura brasileira e a identidade nacional.

Tendo em vista a composição, o escopo e orientação dos artigos apresentados, o livro pode ser analisado sob óticas diversas: pode-se empreender uma caracterização dos diferentes modelos teórico-metodológicos subjacentes aos textos, uma descrição do "estado atual da arte" nos estudos sobre a questão racial no Brasil, ou mesmo uma discussão acerca da seleção dos temas específicos que ganham destaque nos artigos. Limitar-me-ei apenas ao conteúdo do livro e, portanto, uma apresentação sucinta de cada capítulo.

O livro está composto por quinze artigos divididos em quatro seções. Cada seção corresponde a um corte cronológico, identificando e caracterizando de modo paradigmático o pensamento brasileiro sobre o imbricamento entre raça, ciência e sociedade. Na primeira parte estão incluídos quatro capítulos que discutem como os discursos de intelectuais e práticas políticas específicas sobre as questões raciais ajudaram, na virada do século, a formar uma definição de identidade nacional. O primeiro trabalho, de John Manuel Monteiro (As "raças" indígenas no pensamento brasileiro do império), analisa como a penetração no Brasil de novas idéias sobre raça e evolução teve que dialogar com um contradiscurso que via no índio, por meio de um processo de mestiçagem, um caminho para o futuro da civilização brasileira. 

O texto seguinte,Condenado pela raça, absolvido pela medicina: o Brasil descoberto pelo movimento sanitarista da Primeira República, de Nísia Trintade Lima e Gilberto Hochman, discute de forma muito bem documentada como o movimento pela reforma da saúde pública e constituição da ciência médica na Primeira República tiveram um papel central e prolongado na reconstrução da identidade nacional, ajudando a legitimar a presença do Estado no campo da saúde pública e a superar o estado de barbárie em que o País se encontrava. A tese fundamental dos autores é a de que, diante de um país interpretado como doente ­ como dizia o médico Miguel Pereira em 1916, "O Brasil é um imenso hospital" ­, a campanha pelo saneamento, ao tentar resolver o quadro mórbido vigente nos "sertões brasileiros" mediante uma reorganização dos serviços sanitários federais, contribuiu tanto para a descoberta sociológica da doença, quanto para a consolidação de uma nova identidade profissional, a do médico especializado em saúde pública.

Giralda Seyferth é autora do terceiro capítulo, Construindo a nação: hierarquias raciais e o papel do racismo na política de imigração e colonização. Partindo da crença dominante na época de que pertencer a um grupo étnico é o que dá sentido à individualidade nacional, a autora analisa como o discurso sobre imigração e raça, fundamentado na idéia da miscigenação, procurava constituir a noção de um tipo nacional, resultante de um processo seletivo direcionado para o branqueamento da população. Retornando ao tema da imigração, Joel de Souza Ramos encerra o último texto da primeira seção do livro, Dos males que vêm com o sangue: as representações raciais e a categoria do imigrante indesejável nas concepções sobre imigração da década de 20. Nesse capítulo, o autor observa que, em contraposição ao imigrante ideal, o indesejável seria aquele representado por povos cuja raça limitaria a composição de um tipo eugênico nacional. Nesse aspecto, a política imigratória da Primeira República procurava orientar-se basicamente para a formação de um tipo ideal de homogeneidade racial, cuja miscigenação física e cultural resultaria um tipo brasileiro. Esse mecanismo pressupunha uma seleção que levasse em conta, além do aumento do contingente de sangue branco, a "necessidade de se obter os mais assimiláveis entre os brancos e, quando não fosse possível evitar, os mais 'dóceis' entre as 'raças inferiores' " (p. 81).

A segunda seção do livro ­ A reinvenção da raça nas décadas de 30 e 40 ­ está constituída de três textos. Sem pretender estabelecer marcos cronológicos rígidos e incorporando o debate internacional, todos os três capítulos indagam sobre o significado da substituição do conceito de raça pelo de cultura. O primeiro desses textos intitula-se Do saber colonial ao luso-tropicalismo: "raça" e "nação" nas primeiras décadas do salazarismo. Seu autor, Omar Ribeiro Thomaz, valendo-se dos trabalhos apresentados pelas Conferências de Alta Cultura Colonial (evento promovido em 1936 pelo Estado Português na Sociedade de Geografia de Lisboa), observa que uma grande parte da Intelligentsia, desejosa de retomar os anos de glória do antigo Império, partilhava a idéia de que os territórios de ultramar corresponderiam a uma continuação do espírito lusitano. O Brasil representaria a criação bem-sucedida de Portugal. O luso-tropicalismo de Gilberto Freyre, nesse aspecto, estaria em compasso com esse ideal, pois, ao advogar as boas intenções do projeto colonial português, o autor de Casa Grande & Senzala aponta para a criação de uma democracia racial, uma homogeneização da nação avessa à violência racial. O artigo de Lourdes Marínez-Echazábal (Culturalismo dos anos 30 no Brasil e na América Latina: deslocamento retórico ou mudança conceitual?) discute, de forma exemplar, como, a partir da segunda metade do século XIX, a preocupação ontológica ou a hermenêutica da identidade latino-americana torna-se mais intensa nas exegeses dos cientistas sociais. Identificando as principais etapas do "ideologema" da mestiçagem, a autora conclui que o discurso da etnicidade formulado pelos intelectuais dos anos 20 aos 50 (mais especificamente Gilberto Freyre e Jorge Amado), ao tentar dissociar raça e cultura, atualizou a obra de seus antecessores. Ricardo Ventura Santos escreve o último texto da segunda parte da coletânea ­ Da morfologia às moléculas, de raça à população: trajetórias conceituais em Antropologia Física no século XX. Em um estilo claro, conciso, sem se perder em detalhes, o autor analisa a trajetória do conceito de raça na antropologia física (ou biológica). A primeira parte do artigo discute o contexto histórico e teórico da transição híbrida e singular do conceito de raça para o de população, termo chancelado pela síntese neodarwiniana. 

Nesse contexto, argumenta Ricardo, os debates desenvolvidos pela Unesco, na década de 50, a respeito dos Estatutos sobre Raça tiveram uma importância especial quanto a essa questão. Por último, analisando o significado de raça na antropologia física brasileira, o autor observa a existência de duas grandes linhas de investigação: a primeira, representada pelo Museu Nacional, caracterizou-se pela continuidade da noção tipológica de raça; a segunda, centralizou-se na genética de populações.

A terceira parte da coletânea ­ O Brasil como "laboratório racial": os estudos sobre relações raciais entre os anos 40 e 60 ­ reúne quatro capítulos que têm como eixo central a análise das obras de sociólogos e antropólogos, nacionais e estrangeiros, que investigaram as relações raciais no Brasil entre os anos 40 e 60. O primeiro texto, de Antônio Sérgio Alfredo Guimarães (Cor, classes e status nos estudos de Pierson, Azevedo e Harris na Bahia: 1940-1960), discute os quadros teóricos em que os conceitos de cor, classe e status foram relacionados nas ciências sociais no Brasil. Com base no exame de três clássicos (Donaldo Pierson, Marvin Harris e Thales de Azevedo), o autor analisa duas grandes hipóteses sobre a relação entre cor e posição social: aquela que teoriza as discriminações raciais como discriminações de classe e aquela que explica a especificidade do sistema de relações raciais pela permanência de uma hierarquia estamental criada pela escravidão. No texto seguinte, Maria Lúcia de Santana Braga escolheu Roger Bastide para desenvolver uma refinada análise (Roger Bastide, Paisagista). Enfatizando o pluralismo metodológico desse autor, Maria Lúcia conclui que a obra de Bastide, assim como a de Machado de Assis, oferece-nos um quadro amplo (paisagístico) da vida e cultura urbana brasileira. Aliando ciência e arte, Bastide conseguiu ultrapassar os limites de uma visão restrita sobre as relações raciais que marcou o trabalho de muitos de nossos estudiosos. O trabalho de Marcos Chor Maio, A questão racial no pensamento de Guerreiro Ramos, discute a forma como esse autor trata o tema das relações raciais, partindo do pressuposto de que a abordagem adotada está intimamente vinculada a determinados aspectos da sua trajetória de sociólogo, tais como a sua militância no movimento negro e participação na burocracia estatal. Inspirado no modelo nacional-desenvolvimentista cepalino, o intelectual baiano acreditava na existência de uma cultura racial brasileira convivendo com doses elevadas de racismo no País. Para Guerreiro Ramos, essa situação contraditória só seria passível de resolução com a efetiva participação dos intelectuais na construção de uma identidade nacional. Maria Arminda do Nascimento Arruda, no seu trabalho ­ Dilemas do Brasil moderno: a questão racial na obra de Florestan Fernandes ­sobre o autor de A Integração do Negro na Sociedade de Classes, analisa como esse sociólogo investiga a situação dos negros sob o prisma das formas sociais excludentes e das possibilidades de integração que têm caracterizado a ordem capitalista brasileira.

A quarta e última seção da coletânea ­ Perspectivas contemporâneas acerca da questão racial ­ traz quatro capítulos que discutem o dilema racial brasileiro e sua inserção no contexto internacional. Lívio Sansone inaugura essa seção com o artigo intitulado As relações raciais em Casa Grande & Senzala revisitadas à luz do processo de internalização e globalização. Trata-se de um estudo que procura salientar como ohabitus racial e o discurso luso-tropicalista estão descritos em Gilberto Freyre. Baseado em uma pesquisa realizada em duas áreas da Região Metropolitana de Salvador, Lívio Sansone conclui que, apesar do culturalismo e provincianismo das categorias freyrianas, há muitos pontos de contato entre a realidade baiana e o quadro esboçado em Casa Grande & Senzala. Joel Rufino dos Santos em um texto curto e objetivo (O negro como lugar) observa que o negro deve ser entendido como uma configuração social cujas coordenadas são dadas pelo fenótipo (crioulo), condição social (pobre), patrimônio cultural (popular), origem histórica (ascendência africana) e identidade (autodefinição e definição pelo outro). Yvonne Maggie ­ "Aqueles a quem foi negada a cor do dia": as categorias cor e raça na cultura brasileira ­ investiga o complexo sistema de categorização de cores e raças pela cultura brasileira. Analisando o PNAD de 1976 e as perguntas do censo demográfico, a autora conclui que a pergunta aberta e sem um contexto definido sobre a cor e raça propiciou um sistema classificatório que abarca tanto o lugar social, quanto a origem ou identidade étnica dos entrevistados. Por último, o texto de Carlos Hasenbalg (Entre o mito e os fatos: racismo e relações raciais no Brasil) trata do racismo e das desigualdades raciais. Tais questões estão presentes na nossa realidade e se a convivência harmônica entre grupos raciais permanece no discurso ideológico brasileiro deve-se, entre outros aspectos, às dificuldades enfrentadas pelo movimento social dos negros em encaminhar as suas reivindicações específicas e ampliar a sua base social.

Pelo rápido resumo acima apresentado, pode-se perfeitamente concluir que o livro Raça, Ciência e Sociedade é, como diz Gilberto Velho na contracapa, uma "referência obrigatória para todos os estudiosos de relações raciais".

Fonte da Resenha: 

Cad. Saúde Pública vol.13 n.4 Rio de Janeiro Oct. 1997
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X1997000400021